Vereadora Maria Carlota faz projeto para homenagear irmãos Joaquim e Luzia

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Conhecido por todos os capelinhenses, pela humildade e pela música, Joaquim e Luzia são os nomes que serão homenageados por meio de um projeto de lei idealizado pela vereadora Maria de Carlota, em um espaço na Praça Corinto Rocha, localizada na rua Santa Cecília, no bairro Maria Lúcia.

O projeto, que já é discutido na Câmara, se aprovado, terá o nome do casal de cegos, artistas que fizeram história em Capelinha, por se apresentarem quase diariamente na área central da cidade.

Sobre a história de Luzia e Joaquim, abaixo segue um texto escrito pela Jornalista Rosa Santos, em que relembra a trajetória deles.

Joaquim e Luzia:  a humildade que produziu olhos musicais

Valorizar a cultura de um município é, além de obrigação do Poder Público, uma das melhores formas de manter a história. Em Capelinha, havia um “casal de irmãos”, se é que podemos chamar assim, que ficou muito conhecido por duas características muito marcantes: eram cegos e andavam nas ruas sem maiores percalços, e também eram músicos, entoavam suas melodias por onde passavam.

A história de Luzia e Joaquim começou na antiga Lorena, atual cidade de Aricanduva. Ele nasceu em 27 de outubro de 1937, e ela, em 7 de março de 1951. Filhos de Maria Libório da Fonseca, seus irmãos eram Pedro, Vicente, Fátima e Aparecida.

Pedro, o mais velho, foi quem “começou com esse negócio de mexer com música”. Ele, que era cego de nascença, chamou o irmão Joaquim para formarem uma dupla musical. Joaquim nasceu cego do olho direito, mas, tinha ainda um pouco de visão no olho esquerdo. E os dois aprenderam a tocar e a cantar sozinhos, ou, como se diz, “aprenderam com a vida”.

Foi então formada a dupla Pedro e Joaquim. Numa época em que carro não era algo muito comum, os dois iam a cavalo para as cidades da região fazer os seus shows. Cantavam músicas populares que agradavam a toda a gente: o repertório tinha muito Tonico e Tino, mas, tinha também canções de autoria da própria dupla.

Mas, Pedro faleceu, e isso já faz mais de 40 anos. E vocês pensam que Joaquim desanimou da vida e parou de cantar? Não mesmo. Ele chamou a irmã Luzia, que sofria com catarata desde os 12 anos, e também teve a visão interrompida, para formar dupla musical com ele.

Ela aceitou, e surgiu a famosa dupla de ceguinhos cantores Joaquim e Luzia. Ou seria Luzia e Joaquim? Ainda vem na memória quando os dois saíam pelas ruas de Capelinha, ouvindo o som da cidade e “reconhecendo” as pessoas pelo som da voz.

Por um tempo, Luzia e Joaquim moraram com a mãe, dona Maria, mas, após o falecimento dela, passaram a morar apenas um com o outro. Viveram por muitos anos na rua Mauro Antônio Pimenta, 424, no bairro Maria Lúcia, e por alguns meses no bairro Piedade.

É de se admirar pensar em dois cegos morando sozinhos.  Mas, eles tinham uma rotina que funcionava: Luzia cozinhava, lavava roupa e mantinha a casa, dentro do possível, organizada. Os sobrinhos ajudavam como podiam: com a instalação de água e luz na casa ou com algum reparo que fosse necessário. Mas, eles não gostavam que ninguém mexesse em nada na casa, para que, quando precisassem, pudessem encontrar seus pertences no local onde haviam deixado.

Ah, e os dois sabiam contar dinheiro: reconheciam o som de cada moeda pelo barulho. Muita gente gostava de vê-los pela cidade, cantando nas praças, mas por muitas vezes eles cantavam para sobreviver, e com o dinheiro arrecadado compravam comida. Já viveram muito de esmolas e doações também. Era comum, às segundas-feiras, o sobrinho Francisco, conhecido por Chiquinho Cantor (que inclusive já cantou com eles), ir com eles pegar a cesta que era doada no Asilo São Vicente: tinha que chegar ao local às seis horas da manhã. Luzia, Joaquim e Francisco levavam os “cabojos”, um tipo de embornal de pano, onde eram colocados os mantimentos, como farinha, arroz, feijão, e a carne, que naquela época fica dependurada. Luzia e Joaquim sempre dividiam as doações que ganhavam com os sobrinhos, ou com outros familiares que precisassem.

Eles gostavam muito de andar na praça de Capelinha, principalmente na segunda e na sexta-feira. Gostavam de passar na loja do Sadolão, na rua Governador Valadares e também da loja do Sardinha. E ainda, na Mercearia do Lado Satu, onde compravam medidas de feijão e farinha, sardinha e o que mais conseguissem. Em muitas vezes, eles acabavam ganhando o que precisavam.

A Luzia e o Joaquim adoravam contar histórias de pessoas antigas, histórias sobre Capelinha e sobre a região. E é por isso que a vereadora Maria Carlota, que os conheceu e conviveu com eles, e sabe da importância destes dois seres humanos para a rica história cultural de Capelinha, vem pedir que seja dedicado aos irmãos cantores uma espaço na Praça Corinto Rocha, no alto da rua Santa Cecília, no bairro Maria Lúcia, onde moraram por tantos anos. Que seja instalada uma placa com a foto deles, e que os dois fiquem lá, imortalizados pela homenagem, para que quando alguém passar pelo local, ouça o vento trazendo baixinho o som da humildade que produziu olhos musicais.

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