Minas tem mais de 5 mil pessoas na fila de transplante de tecidos e órgãos

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Em cinco anos, o aumento registrado foi de 63%; situação preocupa profissionais de saúde, visto que o gesto nobre salva vidas e proporciona bem estar para os pacientes

A fila de espera por doação de tecidos e órgãos está cada vez maior em Minas Gerais. Nos últimos cinco anos, o aumento registrado foi de 63%. A situação preocupa os profissionais de saúde, visto que o gesto nobre salva vidas e pode proporcionar bem estar para os pacientes. Quem convive com essas pessoas relata a ansiedade de uns e a desesperança de outros. Para diminuir a fila, combater os tabus em torno da doação é necessário.

Dados do MG Transplantes mostram que em 2017 havia 3.455 pessoas na fila de espera, o número saltou para 5.634 no ano passado. Até março deste ano, o número chegou a 5.890.

A reportagem de O TEMPO entrevistou o diretor da entidade, Omar Lopes Cançado, para entender as causas. “As doações caíram nestes últimos anos, especialmente por causa da pandemia de Covid-19. O ano de 2021 foi ainda pior por conta da variante ômicron e a situação que o Estado ficou. Tivemos queda de 35% no número de doadores”, explicou.

A doação de órgãos pode acontecer tanto em vida, quanto após a morte. Sendo que o último caso é mais recorrente. E a pandemia impediu que isso ocorresse, visto que, segundo Cançado, muitos possíveis doadores testaram positivo para a doença.

O isolamento social, necessário para conter o avanço da contaminação pelo coronavírus, proporcionou redução de acidentes e traumas. A abordagem dos profissionais de saúde com as famílias também ficou mais restrita. “As famílias ficaram mais reclusas, não visitavam os pacientes. Quando tentávamos abordá-las, falavam que não queriam (doar) e não podemos forçar”, comentou.

A taxa de recusa que antes da pandemia ficava em torno de 20% subiu para 50%.

Tabus atrapalham doações

O receio relacionado ao procedimento da doação de órgãos e tecidos acaba afastando possíveis famílias doadoras. “O principal tabu é pensar que o ente terá alguma marca visível durante o velório. A cirurgia de retirada de órgão é como outra qualquer e o corpo é reconstituído. É um processo sério, seguro e envolve uma série de profissionais”, conta Cançado.

A morte encefálica, quando ocorre a interrupção irreversível das funções cerebrais,  constatada em muitos pacientes e por vezes desacreditada por familiares, é outro dificultador para a doação de órgãos. “O Brasil é um dos países mais rigorosos no mundo. Três exames clínicos são realizados e todos por médicos diferentes. Uma vez que o diagnóstico da morte encefálica é dado, infelizmente não tem como a pessoa voltar”, explica o diretor do MG Transplantes.

À espera pelo transplante

No Hospital Nossa Senhora das Graças, em Sete Lagoas, 300 pacientes realizam hemodiálise e diálise peritoneal. Deste total 54 estão na fila de espera pelo tão aguardado transplante. “Os pacientes ficam em duas vertentes: os que estão há muito tempo já nem esperam ser chamados e os recém inscritos ficam ansiosos para receber este brinde que é oferta de vida”, diz a enfermeira nefrologista e coordenadora de enfermagem da unidade de saúde, Cristina Aparecida de Sousa Horta.

A enfermeira nefrologista ressalta a importância das pessoas serem doadoras de órgãos. “O transplante é uma forma de tratamento e melhora a qualidade de vida. O paciente de doença renal, por exemplo, não vai ficar mais ligado à uma máquina, a dieta será mais permissiva.

Doar órgãos e tecidos é fundamental

“A espera pelo transplante além de ser dura e árdua, os pacientes acabam morrendo”. A triste realidade traduzida na frase de Cançado ressalta a necessidade das pessoas serem doadoras. “Com um doador podemos melhorar a vida de até 12 pacientes, pois podem ser transplantados: coração, pulmões, fígado, rins, pâncreas, intestino, córneas e até ossos”.

A coordenadora de enfermagem do Hospital Nossa Senhora das Graças deixa uma mensagem para aqueles que desejam doar órgãos. “Precisamos falar sobre este assunto e conscientizar as pessoas. Avise alguém da família sobre este desejo porque na maioria das vezes, quando o paciente está hospitalizado em estado grave não tem como reconhecer o pedido”.

Cristiana cita o que pode ser mudado na vida dos pacientes de doença renal crônica. “É uma doença muito triste tanto pelo ponto de vista da saúde, como psico-social. O paciente recebe muito ‘não’: para viajar, alimentar, fica dependente do outro para viver. Com o transplante ganham em qualidade de vida. É fundamental ser doador, avise sua família”.

O MG Transplantes vem observando a retomada no número de doadores e tem investido em campanhas para orientar a população. “As pessoas que esperam por transplantes estão em estado grave e não têm condições de ter vida normal. O transplante recoloca a pessoa na sociedade”, concluiu o diretor da entidade.

Fonte: O TEMPO

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