Brasil: casos de Covid dominam registros de doenças respiratórias, diz Fiocruz

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Os casos no país voltaram a passar de uma média móvel de 18 mil nessa semana, apesar de os dados mais recentes, de cerca de 15 mil casos, demonstrarem estabilidade

Os casos de Covid-19 voltaram a predominar entre os registros de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Brasil. Boletim InfoGripe divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) nesta sexta-feira (20) aponta que 41,8% dos diagnósticos de doenças respiratórias correspondem a infecções por coronavírus.

Os dados são referentes ao período entre 8 e 14 de maio e confirmam o novo cenário da pandemia já observado na alta de indicadores nacionais. Os casos no país voltaram a passar de uma média móvel de 18 mil nessa semana, apesar de os dados mais recentes, de cerca de 15 mil casos, demonstrarem estabilidade, enquanto a média de 113 mortes ao dia está em crescimento — ainda distante da média de mais de 300 óbitos registrada no início do ano.

Em Minas Gerais, os casos em acompanhamento, ou seja, de pessoas infectadas neste momento e ainda não consideradas curadas, saltou de 63,3 mil para 94 mil pacientes em um mês. Em entrevista a OTempo, o pesquisador da Fiocruz e coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes, acredita ser cedo para classificar o atual momento como uma ‘quarta onda’.

“Mas é claramente uma nova fase de crescimento ainda em ritmo lento. Se vai se manter ou ganhar força, aí dependemos do que será feito para reagir a esse momento. Mas é um crescimento consistente que já vem a várias semanas”, opina Gomes. O estudioso diz que o aumento nos índices positivos de Covid-19 se relacionam com a flexibilização do uso de máscaras em ambientes fechados.

Minas Gerais, por exemplo, retirou a obrigatoriedade sobre a utilização da proteção em 1º de maio. “Eu acho que poderia ter sido diferente. Estávamos em um momento mais favorável, com índices baixos, epidemiologicamente tranquilo e que permitia o retorno de uma série de atividades. O porém é a liberação incondicional. Poderia mostrar a importância de manter, especialmente na população mais vulnerável, mesmo não sendo obrigatório”, opina.

Na avaliação de Marcelo Gomes, os casos de Covid registrados atualmente podem ser ainda maiores do que os dados apontam, tendo em vista que os sintomas se assemelham a resfriados e gripe. “As vacinas mudaram o desenvolvimento de sintomas, com um risco menor de desenvolver quadros graves”, sinaliza. Para ele, não há clareza ainda se o crescimento de casos observado vai representar uma pressão sobre internações.

Mas alerta que a desmobilização de leitos específicos para Covid-19 pode dificultar o atendimento à população. “A rapidez que pode esgotar ou saturar o sistema é outra, porque a quantidade de leitos dedicados não é mais a mesma. É hora de revisar o que se tem de alas e acompanhar com muito cuidado e critério”, defende o pesquisador.

Estagnação
Outra possibilidade que pode ter levado ao crescimento de casos positivos de Covid-19 é a estagnação na campanha de vacinação contra a doença no Brasil. Segundo o boletim do Observatório Covid-19, divulgado nesta quinta-feira (19), na população acima de 25 anos, a cobertura no território nacional para o esquema vacinal completo é de 80%.
No entanto, a terceira dose nos grupos mais jovens segue abaixo da média considerada satisfatória. A análise aponta cobertura de 63,9% na faixa etária de 55 a 59 anos, 57,9% na de 50 a 54 anos, 52,8% de 45 a 49 anos. O percentual diminui gradualmente: a partir de 40 a 44 anos é de 49,8%, de 35 a 39 anos é de 44,7%, de 30 a 34 anos é de 40,3%, de 25 a 29 anos é de 35,5%, de 20 a 24 anos é de 30,4% e de 18 a 19 anos é de 25,2%.

No período de 24 de abril a 14 de maio, o boletim sinaliza que, em relação à quarta dose, na faixa etária de maiores de 80 anos é de 17,7%, de 75 a 79 anos é de 12,4%, 70 a 74 anos é de 12%, de 65 a 69 anos é de 6,4% e de 60 a 64 anos é de 3,4%.

“Estamos cada vez mais distante da data em que a gente tomou a segunda dose e quanto mais tempo passa, ficamos cada vez mais vulneráveis e com memória imunológica pior. O cenário vai ficando de maior risco”, disse Marcelo Gomes. O atraso das pessoas em completar o ciclo vacinal atrapalha, inclusive, a autorização para que toda a população adulta receba 4ª dose – autorizada somente para idosos e imunossuprimidos.

“Isso está sendo debatido, inclusive no âmbito da Câmara Técnica do Ministério da Saúde. Mas ainda não temos dados claros de que realmente é fundamental aplicar. Os imunocomprometidos já provamos porque os dados davam indicação muito sugestiva que era fundamental e para o resto da população adulta ainda não tem essa clareza. E fica difícil sustentar a necessidade de uma segunda dose de reforço se nem a primeira a população buscou”, lamenta o pesquisador.

Gomes ainda defende unidade nos governos federal, estadual e municipal para o desenvolvimento de ações de comunicação para avançar na imunização. “É importante que todos falem a mesma língua para que tenhamos informações consolidadas. Desde o começo da pandemia a gente tem falhado muito em comunicação institucional e continuamos patinando”, complementou.

Mudança comportamental
O momento, segundo Marcelo Gomes, pode ser propício para uma mudança cultural da população brasileira em relação aos sintomas de doenças respiratórias. “Se tem nariz escorrendo, está espirrando, tossindo, com sinal de resfriado? Use a máscara ao sair de casa. Isso é importante e deixamos de fazer com as flexibilizações. Não tem como precisar, mas certamente poderia diminuir a circulação do vírus”, sugere.
Fonte: O TEMPO

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