Estamos no Agosto Lilás, mês que celebra o combate a todo o tipo de violência contra a mulher: física, sexual, psicológica, moral e patrimonial. O GAZETA DOS VALES preparou uma série de ações neste sentido, incluindo matérias, podcasts e outras divulgações relativas ao tema.
A capelinhense Rosângela Pimenta de Figueiredo entrou, na Justiça baiana, com uma notícia crime contra Alessandro Almeida Colen, padre que por anos presidiu a Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, em Eunápolis, e foi transferido, recentemente, para a Paróquia de Itapebi, também na Bahia. Em sua denúncia, ela diz que o padre a atendeu, por mais de três anos, na condição de psicólogo, porém, ao averiguar sua formação junto ao Conselho Regional de Psicologia, verificou não haver nenhum registro para o CRP informado por ele em documento emitido a ela, onde consta o número 19510-11/BA.
Conforme a notícia crime, Rosângela alega ter confiado ao padre, na condição de psicólogo “plenamente, pois ali havia uma relação entre psicólogo e paciente, sendo o sigilo das conversas um dos princípios da psicologia. Tamanha a confiança depositada em seu psicólogo, que Rosângela pediu que ele atendesse seu filho, à época com 14 anos de idade, o que foi aceito por Alessandro”. Rosângela Pimenta afirma ainda que o pagamento de cada consulta era efetuado em dinheiro, por exigência do padre.
O documento onde há a assinatura do padre e o número do CRP foi obtido por Rosângela em maio de 2023, quando ela lhe pediu uma declaração que retratasse sua vida enquanto morava em Eunápolis. Isso porque Rosângela está em processo de separação de seu ex-companheiro, o advogado Warley Maia, morador de Capelinha. A intenção do pedido, ainda conforme a transcrição da notícia crime, era “comprovar que ela não mantinha qualquer relacionamento com seu ex-companheiro”.
Alessandro forneceu a declaração, e a enviou à antiga paciente em maio de 2023, via WhatsApp, e ela a juntou nos autos do processo de dissolução de união estável. Mas, ela se diz surpreendida quando, um mês depois, em junho, seu ex-companheiro juntou uma “Declaração de Retificação/Ratificação” de Alessandro, afirmando haver equívocos nas informações por ele fornecidas na declaração para Rosângela.
“Eu fiquei sem chão, totalmente atônita, desnorteada até. Como pode? Um padre, que me atendeu por anos como psicólogo, a quem confiei informações pessoais, agir dessa forma? Primeiro ele me deu uma declaração, e depois forneceu outra para meu ex-companheiro, Warley, inclusive inventando coisas e mentiras, além de revelar as intimidades confiadas a ele, do meu filho que era adolescente à época”, comenta a capelinhense, que completa: “Eu liguei, enviei mensagens pelo WhatsApp, mas ele me bloqueou. Eu apenas descobri toda essa farsa após ele fornecer uma declaração falsa ao meu ex-companheiro, foi o que me motivou a fazer a denúncia contra Alessandro, momento em que descobri que ele nunca foi psicólogo”.
O OUTRO LADO E OUTRAS DECLARAÇÕES
O Gazeta dos Vales procurou o advogado Warley Maia, ex-companheiro de Rosângela, citado por ela. Ele deu a seguinte declaração: “Eu confirmo que o padre sempre nos atendeu como psicanalista”.
Já o padre Alessandro Colen enviou uma nota, onde diz ter curso de psicanálise, e afirmou: “Nunca e em tempo algum me apresentei como psicólogo, sendo que tanto na placa indicativa do meu consultório, assim como em minhas redes sociais e em todo e qualquer documento por mim emitido e assinado, é clara a informação de psicanalista clínico, inclusive fazendo referência ao registro junto à ABMPDF (Associação Brasileira de Medicina Psicossomática REG) CRPA Nº 19510-11/BR.
Questionado pela reportagem sobre o registro CRP 19510-11/BA, relativo ao Conselho Regional de Psicologia, e que está tanto na declaração emitida à Rosângela, quanto na que foi passada, pelo padre, ao ex-companheiro de Rosângela, Warley, o padre Alessandro disse que “deve ter sido erro de digitação da pessoa que fez”. A reportagem da Gazeta teve acesso a uma foto da placa constante na fachada do consultório de Alessandro Colen, feita no dia 3 de agosto de 2023, onde lê-se o número de CRP 19510-11/BA, ou seja, relativo ao Conselho Regional de Psicologia.
Ainda na nota, o religioso afirma: “É do conhecimento de toda a população de Eunápolis/BA, local onde residi e atendi por anos, o fato de toda vida ser reconhecido como psicanalista clínico, e não como psicólogo”. A reportagem do Gazeta ouviu também uma moradora de Eunápolis, que afirma sobre um atendimento à sua irmã, a cerca de dez anos, pelo padre Alessandro, na condição de psicólogo: “Eu não morava em Eunápolis, mas a minha irmã sim, então quando cheguei para visitá-la, percebi que ela estava precisando da ajuda de um profissional nessa área de psicologia. Aí pedi informações na cidade e me indicaram o padre Alessandro como um excelente psicólogo. Liguei, marquei a consulta e fomos. Não entrei na sala, porque a consulta era dela. Quando terminou, fomos para casa e depois voltei para a cidade que morava. Isso deve ter mais ou menos uns dez anos, mas aqui todo mundo fala que ele realmente é psicólogo”.
A Cúria Diocesana de Eunápolis, órgão presidido pelo bispo Dom Edson, também foi procurada pela reportagem do Gazeta, e indicou a Assessoria de Comunicação da Diocese de Eunápolis, que emitiu a seguinte nota: “Procurada por diversos veículos de comunicação impressos ou digitais, acerca de suposta denúncia sobre o exercício ilegal da profissão de psicólogo por parte de um sacerdote do Clero Diocesano, a Diocese de Eunápolis esclarece que desconhece o fato e que se dispõe a melhor investigá-lo a fim de poder continuar contribuindo com a sociedade, bem como, com a imprensa. Reitera ainda seu constante compromisso com a verdade do Evangelho e com o bem comum”.
