Ex-doméstica volta a estudar após 40 anos e é aprovada na OAB: ‘Fui ovacionada e comecei a chorar’

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Quem viu Marina Santos Prado das Neves subir ao palco, aos 63 anos, para receber a carteira dela da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), no início de julho, não imagina a trajetória da advogada até chegar lá. A idosa conquistou a aprovação após 40 anos longe dos estudos, e o esperado momento foi pra lá de emocionante. Marina conversou com o BHAZ e contou os desafios que precisou superar até aqui.

Advogada criminalista, Marina relata que precisou abandonar a escola na 4º série do ensino fundamental depois da morte do pai. Na época, a mãe dela trabalhava como empregada doméstica e a então jovem precisou deixar de estudar para ajudar na renda em casa. Nas quatro décadas que se seguiram, ela ganhou o sustento como empregada doméstica, casou, teve filhos e netos.

No entanto, o sonho de continuar os estudos permaneceu mais do que vivo. Com o incentivo do marido, Marina voltou a cursar o ensino fundamental por meio do EJA (Educação de Jovens e Adultos). “Depois de ficar 40 anos sem nenhum contato com aulas, eu estava indo muito bem e aquilo me animou”, conta.

Marina concluiu o ensino médio aos 50 anos. Ela vive em Bauru, São Paulo, mesmo local em que recebeu a carteira da OAB no último dia 8 de julho.

Entusiasmada com as novas possibilidades, Marina decidiu que completaria o ciclo de estudos, do fundamental até o ensino superior, em 15 anos. “Planejei me formar até os 65 anos, mas consegui antes, aos 62”, relata com orgulho.

Marina em sua formatura, acompanhada do marido (Arquivo pessoal)

Vida universitária

Apesar da felicidade, Marina relata que não foi fácil lutar pelo sonho dela de ser formar: “Na minha turma da faculdade, eu era a mais velha e também a única negra da sala”. “O que eles demoravam 2 minutos para fazer, eu levava 10”, diz a profissional sobre estudar ao lado de pessoas muito mais jovens.

A advogada relata que, além da idade mais avançada, os anos que passou afastada da educação tornaram a jornada mais cansativa. Mas, em contrapartida, os colegas também se tornaram uma fonte constante de incentivo. Ela conta que os coros de “vamos, dona Marina!”, eram frequentes em meio aos demais alunos.

Representatividade

Dos 46 profissionais contemplados na solenidade da OAB, Marina Neves era a novamente a única idosa e a única negra. “Quando chamaram meu nome para subir no palco, eu fui ovacionada e comecei a chorar”. Foi aí que se deu conta da importância de sua conquista.

“Eu quero que as pessoas olhem pra mim, vejam os meus cabelos brancos, vejam as minhas rugas, as minhas dificuldades e pensem: ela perseverou!”, finaliza.

Mesmo com tantas vitórias, Marina não quer parar por aí. Daqui para frente, a advogada diz que pretende se dedicar à carreira e afirma que deseja fazer uma pós-graduação em Direito Penal no próximo ano.

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