“Cada um tem direito de escrever sua própria história”, relata primeiro homem trans registrado em Capelinha

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Depois de quase dois anos de espera, João Pedro teve documentação aceita e comemora a conquista como uma vitória coletiva.

Por Amanda Rodrigues – Jornalista

Recém reconhecido oficialmente em cartório como João Pedro Lima Godinho, o jovem de 21 anos, fez um relato de sua história para o Portal Gazeta dos Vales.

Ele foi a primeira pessoa a conseguir a mudança no documento de identificação RG (Registro Geral) como transgênero, em Capelinha. Depois de uma espera de dois anos, que só foi possível através do apoio de pessoas queridas, a documentação foi aceita e agora é só comemorar.

Mesmo o processo sendo longo, o jovem contou que foi muito bem atendido na Delegacia Civil de Capelinha. “Elas (moças que atenderam) perceberam a importância que isso tem pra mim, é a minha identidade, é meu nome. Considero uma vitória coletiva para as pessoas que também querem o mesmo que eu”, enfatizou João Pedro.

Natural de Capelinha, ele atua como artista, faz produções de rap e também tem um bazar online que administra com um amigo. “Sou um homem como qualquer outro homem em sociedade, porém, ainda com menos privilégios. Acho que cada um tem direito de escrever sua própria história, se sentir bem sendo você mesmo”, disse.

Busca por identidade

João Pedro contou que desde mais novo entendia que não se encaixava no padrão que socialmente é considerado feminino, segundo ele, sempre se viu como um menino, mas nunca entendeu o porquê. “As pessoas falavam que era errado, então entrei para uma igreja para tentar ‘me curar’. Passei boa parte da adolescência na igreja e nenhuma das angústias mudavam, até que procurei meios para saber o que realmente acontecia comigo, então entendi que eu nasci assim, me vejo como um garoto desde minha primeira lembrança de criança”, relatou.

“A gente não tá aqui pra fazer mal para ninguém, só queremos ter o direito de viver. O Brasil é o país que mais mata trans, nossa expectativa de vida é só até os 35 anos. Não faz sentido terem tanta raiva de pessoas que só querem viver, ter os mesmos direitos que uma pessoa cisgênero”, finalizou João Pedro.

Em entrevista para o Canal Universa, do Portal de Notícias UOL, o médico Joshua Safer, do Centro de Medicina Transgênero do Hospital Mount Sinai, em Nova York, diz que ser transgênero não é escolha, é biologia. “É preciso compreender que pessoas transgênero, assim como todas as pessoas, têm a identidade de gênero programada em seus cérebros. Elas têm identidade de gênero diferente da do corpo que você vê e algumas dessas pessoas reconhecem isso em diferentes momentos de suas vidas”, relatou o médico.

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